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terça-feira, 5 de abril de 2011

Café do Pina

Alexandre Otto: "Foi nesse ambiente efervescente e renovador que nasceu embaixo do mulateiro, o Clube da Madrugada, o único movimento de renovação cultural que o Amazonas já teve".


Alô Jovem! Era assim o cumprimento do velho Pina, isso antes mesmo dele, que era o dono do Pavilhão São Jorge, pegar no dinheiro do freguês, uma gentileza que hoje não se vê mais em Manaus, a cidade inesquecível do já teve.

O Pavilhão era ali ao lado do quartel da Polícia Militar, situado na Praça Ribeiro Júnior, tenente adepto do tenentismo em Manaus, que em 1924 invadiu o palácio Rio Negro, e depôs o governo corrupto que dilapidava o dinheiro público, num dos mais extravagantes roubos da história do Amazonas. É bom lembrar que o governador nesta época era um desembargador corrupto, figura insólita que suja de lama a idônea história da magistratura amazonense.

Marcado talvez por um nome revolucionário onde o logradouro oferecia o melhor café de Manaus, nasceu a República Livre do Pina, que chegou a ter até a construção de um gasofilácio, na época do Artur Prefeito.

Ali era o centro cultural, social e civilizador de nossa cidade. Freqüentavam o Café religiosamente, intelectuais, magistrados, promotores, procuradores, artistas, políticos e o povo em geral que não ia para casa, sem antes bater um papo com a turma e tomar um delicioso cafezinho.

Foi nesse ambiente efervescente e renovador que nasceu embaixo do mulateiro, o Clube da Madrugada, o único movimento de renovação cultural que o Amazonas já teve.

Acontece que esse logradouro, nunca teve sossego, e várias vezes mudou de localização, indo lá para o outro lado da Praça da Polícia, onde teve incursão o Projeto Jaraquí, movimento onde qualquer pessoa poderia fazer seu pronunciamento, como naquela praça lá em Londres. Depois disso veio o Manoel Pracinha, que reformou a praça, e levou o Café de novo para o local de origem.

Na seqüência, veio o Berinho, como diz seu assessor, e num acesso operístico, transformou o Pina num café de elite, pondo o mesmo lá dentro do Palácio Provincial, que aliás ficou uma beleza. Dr. Robério, ilustre secretário, o senhor é o melhor secretário de cultura que o Amazonas já teve, mas dessa vez o senhor pisou na bola. Quanto ao resto nota 10.

Ainda bem que o Governador Omar Aziz, ouvindo os pedidos do povo, recolocou o Café do Pina lá fora, num atitude esplendida e democrática. É isso aí, Omar, qualquer dias desses, faça como o Amazonino, venha tomar um cafezinho com o povo. Manaus agradece.

Alexandre Otto,

É escritor e membro do Clube da Madrugada