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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Feiras e Mercados: privatização virou pesadelo


          Domingo acordei por volta de 5:00h como faço costumeiramente e fui ao mercado da Manaus-Moderna, o dia estava clareando quando cheguei naquele local onde trabalham vários obidenses, entre eles os filhos do Chagas que ficou conhecido em Óbidos por fazer a melhor linguiça da cidade.
         Os barcos que chegavam do Oeste do Pará aportaram e os passageiros desciam vagarosamente depois de uma longa e cansativa viagem, junto aos transeuntes as mercadorias começam a ser descarregadas. Fico sempre fascinado ao ver o amanhecer às margens do rio Negro que é algo indescritível, em seguida caminhei lentamente até o mercado Adolpho Lisboa, que há mais de oito anos está fechado para restauração. Na parte externa do prédio histórico foram construídas pequenas barracas em madeira onde os comerciantes do antigo mercado foram alocados a espera uma quase interminável reconstrução do centenário prédio.
           Nesses quase quarenta anos que moro em Manaus, pelo menos há trinta anos freqüento aquele local onde fiz muitos amigos, alguns deles herdaram seus pontos comercias de seus pais que herdaram de seus avós, e aí tem toda uma história que envolve uma tradição familiar.
          Em setembro o prefeito Amazonino Mendes encaminhou projeto à Câmara Municipal de Manaus (CMM) (aprovado pela maioria situacionista) para privatizar as feiras e mercados de Manaus. Trocando em miúdos: haverá uma licitação na qual será escolhida uma empresa que nos próximo vinte anos terá o direito de alugar, arrendar áreas comerciais em mercado e feiras de nossa capital.
           A preocupação dos feirantes de Manaus - entre eles os permissionários do Adolfo Lisboa - é de como ficará a situação deles após a privatização. De acordo com o seu Mário, comerciante do velho mercado, que trabalha no local há mais de 50 anos, “como se não bastasse essa obra de restauração, que caminha para uma década, fomos obrigados a trabalhar de forma quase desumana nesse cubículo que você está vendo. Para completar, agora vem o Amazonino com essa tal de privatização. Realmente passamos por uma situação desesperadora, não conseguimos ver a luz no fim do túnel”, desabafou o feirante.
         Constatei durante a manhã que estive na Manaus Moderna, um misto de apreensão onde feirantes vivem dias de incerteza, um deles, que encontrei nos corredores estreitos da feira improvisada, respondeu de forma triste, quase melancólica, quando lhe perguntei como iria ficar a situação deles após a privatização: “de pronto não sei, semana passada  completei 70 anos, não tenho idade para  recomeçar em outro local, minha vida toda trabalhei aqui, nunca tive outro trabalho. Este vai ser o pior natal que vou passar em minha vida desde que me entendo por gente” concluiu o permissionário que saiu caminhando vagarosamente para seu box.







           Lembrei-me de avisar aos feirantes, que a administração das feiras e mercados será de responsabilidade da empresa PIU INVEST EMPREENDIMENTOS E INCORPORAÇÕES S/A, ou UAI Shopping, que foi a vencedora da concorrência, conforme informa o Diário Oficial do Município de Manaus, datado de 2 de dezembro de 2011. É a mesma empresa que vai administrar quiosques, bares e restaurantes localizados no Parque da Ponta Negra.
          Despedi-me de meus amigos e caminhei até o meu carro e no trajeto tentava encontrar uma alternativa que amenizasse a aflição por que passava aquela gente. A única conclusão que cheguei é que esses trabalhadores, que são em torno de 20 mil em toda Manaus, devem se organizar e apoiar um candidato a prefeito que  se comprometa, se eleito, revogar esta fatídica lei.
Por: Paulo Onofre
Jornalista (MTb 467)
Jornal Tribuna do Iranduba