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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

A COLINA EM FESTA



Nas colinas de São Raimundo, seus moradores celebram a festa de seu santo padroeira rezando as novenas, cantando, dançando suas manifestações folclóricas no arraial da Igreja, participando da procissão no dia 31 de agosto, finalizando com a missa em louvor ao seu santo fundador São Raimundo Nonato, o protetor das parturientes, parteiras e dos comunitários do Bairro de São Raimundo de Manaus,

Ellza Souza (*)
A Igreja de São Raimundo existe desde o final do século XIX e foi criada pelos primeiros moradores e pelo padre mauara Raimundo Amâncio de Miranda que trouxe a primeira imagem do santo para o bairro. A comunidade foi se espalhando pelas beiras do rio Negro e ladeiras, sempre voltada para a religiosidade e a cultura. Talvez inspirados pelo exuberante rio que circunda todo o local, São Raimundo cresceu entre boas idéias e pacificamente.

As misses do carnaval, as manhãs de sol dos clubes, o cinema que das casas dos moradores foi para o Cine Ideal até fechar banido pela modernidade. O teatro deixado pelo padre Carlos Flhur e mais tarde incentivado pelas freiras. O futebol da juventude que rendeu grupos de amigos como o JAP (Juventude Atlética Paroquial), a catequese, o arraial com suas barraquinhas, bonecas vivas e quitutes.  O sino badalando forte para acordar os fiéis para a missa das 7 da manhã de domingo.

O festival folclórico do professor José Nogueira que reconhece, entre idas e vindas que “sou tradicional e gosto das danças antigas”.  E graças a isso o reconhecido festival  marquesiano (Colégio Marquês de Santa Cruz) retomou a sua consistência inicial e ao seu criador. Os banhos de praia e de cacimba. As procissões como a de Corpus Cristis que davam um trabalho danado para decorar a rua mas que todos faziam com amor. O padroeiro sempre foi comemorado com procissões, novenas, arraial, manifestações culturais num esforço e união entre a igreja e os moradores.

O bairro hoje sofre algumas dificuldades por conta do chamado progresso e pela falta de uma educação mais eficiente em casa e nas escolas. Os malefícios das drogas se espalham entre os jovens que não encontram à sua disposição as boas idéias e bons líderes que o façam optar pela alegria, pela cultura, pelo livro, pelo cinema, pelo teatro, pelo esporte. Soltos, vão sem rumo e não conseguem nem avaliar a beleza que os circundam, seja nas águas pretas do rio ou no pôr do sol alaranjado que se mostra no fim da tarde lá pras bandas da “goela”.

(*) É escritora, jornalista e articulista do NCPAM/UFAM.

Greve dos Professores Universitários: uma analogia futebolística


Welton Oda*
A presidente Dilma Rousseff, além de destratar os trabalhadores do serviço público, agiu de forma truculenta perseguindo suas lideranças e suas organizações.  Quanto ao movimento grevista dos professores a determinação foi fritar suas lideranças e desqualificar suas propostas desconsiderando qualquer manifestação de valorização do magistério e garantia do pleno funcionamento das universidades públicas, gratuitas e competentes capazes de promover novos indicadores de aprendizagem, pesquisa e extensão. Desrespeito total, o que requer dos professores responsáveis atitudes que incentivem a continuar esta luta em suas diversas frentes, articulando força com a sociedade civil para barrar a vontade deste governo de privatizar as universidades públicas, promovendo a instabilidade do magistério com se fosse a massa falida da educação.         
  Depois de mais de setenta dias de greve e uma longa história pra contar, talvez seja necessário usar uma comparação que explique, de modo simplificado, um enredo cheio de termos técnicos (desestruturação da carreira, verticalização, malha salarial, steps...) e siglas (MPOG, SINASEFE, CNG, EBTT, MS, IFE, PROIFES, PUCRCE...).
Optemos pois por caminho diverso, pegando um atalho e deixando pra trás as siglas e termos técnicos. Comparemos, pois, o processo de negociação entre os professores universitários em greve e o Governo Federal, a uma partida de futebol. Neste jogo, o Governo, além de ser um dos times, pretende ser o juiz e, com isso, formular as regras. Segundo as normas que propõe para o jogo, por exemplo, alguns jogadores do seu time podem atuar na partida vestidos com a camisa do time adversário. A duração da partida será variável e de acordo com a conveniência do juiz.
A partida se inicia e logo os jogadores do Governo vestidos com a camisa dos professores universitários passam para o outro campo e começam uma tabelinha com o time do Governo. Sem ameaçar a seleção dos professores, que apresenta um sistema defensivo bem compacto, os governistas mal conseguem se aproximar do campo adversário. Então tocam bola entre si e, após uma enfadonha troca de passes entre eles mesmos, a equipe governista chuta para o próprio gol. O juiz, que declaradamente é governista, ao invés de computar um gol contra a favor do time dos professores, registra o gol favoravelmente ao time do Governo e aponta o centro do campo, indicando o fim da partida.
Estas são as regras do jogo autoritário com o qual o Governo de Dilma Roussef trata o serviço público brasileiro. A pauta de reivindicações, protocolada no Ministério da Educação (MEC) e no Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG), em fevereiro deste ano, sequer recebeu, por parte do Governo, qualquer atenção. Ao apresentar suas “contra-propostas”, a equipe técnica responsável por sua formulação, demonstra desconhecer ou ignorar os anseios dos professores universitários.
 O papel social dos professores universitários não pode se limitar ao trabalho em sala de aula. É preciso que o MEC reconheça os preceitos constitucionais da Autonomia Universitária e do Direito de Greve, o que, no caso destes profissionais, vai além do direito de reivindicar melhores condições de trabalho. Cabe também ao professor universitário brasileiro o papel de refletir criticamente sobre o modelo de educação superior pública oferecida pelo Estado brasileiro.   
Neste processo de reivindicação de melhorias nas condições de trabalho, o Governo Federal tem negado ao professor do ensino superior a voz e o protagonismo que lhe cabem. Com truculência, os Ministros Aloísio Mercadante e Miriam Belchior recusam-se ao diálogo, preferindo utilizar as artimanhas do engodo e do jogo de mídia. 
E você? Torce pra que time? Para o time da Educação Pública e de qualidade - como defendem os professores universitários - ou para o time da Universidade Privatizada e sem qualidade, como propõe o Governo?
A escolha é sua! O tempo é agora!
(*) Professor do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), doutor em Educação Científica e Tecnológica (UFSC)