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terça-feira, 25 de setembro de 2012

O pior da pesquisa é a manipulação da vontade dos eleitores





Ademir Ramos (*)

Atualmente, a pesquisa é uma plataforma necessária para mensurar  a vontade e a opção do eleitor. Nenhum candidato de bom senso descarta esse recurso técnico, essa ferramenta de trabalho, que capta a vontade do eleitor servindo também para orientar e conduzir o candidato no firme propósito da apreensão do voto. Essa determinação do candidato faz com que tecnicamente recorra a mais de um instituto de pesquisa para orientar internamente o rumo de sua campanha; quando não, as pesquisas quantitativas são casadas com as qualitativas, permitindo que o candidato conheça as necessidades dos eleitores de um determinado segmento, zona ou classe.

O domínio dessas informações e demandas pelo candidato dá credibilidade as suas propostas, convencendo o eleitor de que ele é o melhor. Além de auxiliar o candidato diretamente, as pesquisas servem também para justificar a captação de recursos financeiros juntos aos seus apoiadores, que por sua vez, avaliam o desempenho do candidato e a partir dos índices das pesquisas resolvem investir ou não nesse ou naquele, apostando também no sucesso.

Pesquisa não ganha eleição, mas, pode muito bem servir como instrumento de mobilização para captação do voto do eleitor indeciso, que se encontra na dúvida, esperando o grito da galera. O eleitor massa sente-se satisfeito em apostar no sucesso e na vitória, votando naquele que lidera as pesquisas. Esta realidade é muito mais gritante quando se trata de uma sociedade marcada por perversa desigualdade social.

Contudo, é necessário esclarecer que, embora o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) exija dos órgãos responsáveis sua inscrição junto a Corte, não instituiu regra de acompanhamento para consecução dos procedimentos metodológicos dos trabalhos desses órgãos para avaliar e conferir os resultados apresentados. O que poderia ser feito, obrigatoriamente pelo TRE, por meio de análise e avaliação dos relatórios assinados por profissionais qualificados do campo das ciências sociais.

Desse modo, a Justiça Eleitoral estaria cumprindo com o seu dever para salvaguardar o eleitor de qualquer dirigismo e manipulação, conferindo legalidade e legitimidade as pesquisas quanto à proximidade da realidade das urnas.

No Amazonas, o fato político é que todas as pesquisas dão conta da liderança de Artur Virgílio Neto (PSDB), para Prefeitura de Manaus. Quanto aos números proclamados pelos institutos parece que a discrepância está muito mais no foco (segmento ou zona pesquisada) do que nos procedimentos metodológicos adotados pelos pesquisadores, o que não contrário os resultados.

De qualquer modo, é necessário que os órgãos de pesquisa não percam a noção de totalidade e que se comprometam em apreender cada vez mais a complexidade social, política e econômica do eleitorado do Município de Manaus, traduzindo em números a vontade geral do manauara. Enfim que a vontade do povo seja respeitada e vença o melhor.

(*) É professor, antropólogo e coordenador da NCPAM/UFAM.

Na base do desespero



Na base do desespero

Lula sente-se ameaçado. De fato, está. Seu governo corre o risco de receber diploma de improbidade com o julgamento da Ação Penal 470 pelo Supremo Tribunal Federal (STF). E seu partido pode levar uma surra histórica nas urnas de 7 de outubro - como mostra o último Datafolha. São as razões do desespero que levou o ex-presidente a pedir socorro a alguns dos partidos da base do governo, constrangendo-os a subscrever uma nota dirigida "à sociedade brasileira" na qual se tenta colocar o chefão do PT a salvo das suspeitas a respeito de seu verdadeiro papel no escândalo do mensalão.
Como não pegaria bem atacar diretamente o STF injusto ou o eleitorado ingrato, a nota volta-se contra os partidos da oposição, que tiveram a ousadia de sugerir ampla investigação sobre quem esteve de fato por detrás da trama criminosa do mensalão, conforme informações atribuídas ao publicitário Marcos Valério pela revista Veja.
A propósito dessa suspeita natural que a oposição não teve interesse ou coragem de levantar em 2004, o comportamento do ex-presidente no episódio merece, de fato, algum "refresco de memória". Quando o escândalo estourou, Lula declarou que se sentia traído e que o PT devia pedir desculpas ao País; depois, em entrevista à televisão em Paris, garantiu, cinicamente, que seu partido havia feito apenas o que todos fazem - caixa 2; finalmente, já ungido pelas urnas, em 2006, lançou a tese que até hoje sustenta: tudo não passou de uma "farsa" urdida pelas "elites" para "barrar e reverter o processo de mudanças" por ele iniciado, como afirma a nota.
Por ordem do chefão essa manifestação de desagravo a si próprio foi apresentada pelo presidente do PT, o iracundo Rui Falcão, a um grupo selecionado de aliados. Da chamada base de apoio ficaram de fora o PP de Valdemar Costa Neto e o PTB de Roberto Jefferson, ambos sendo julgados pelo STF. O documento leva a assinatura dos presidentes do PT e de cinco outras legendas: PSB, PMDB, PC do B, PDT e PRB. Seus termos obedecem ao mais rigoroso figurino da hipocrisia política. Iniciam por repudiar a nota em que PSDB, DEM e PPS, "forças conservadoras", "tentaram comprometer a honra e a dignidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva". E a classificam como "fruto do desespero diante das derrotas seguidamente infligidas a eles pelo eleitorado brasileiro".
Para PT e aliados, numa velada referência ao processo do mensalão, as oposições "tentam fazer política à margem do processo eleitoral, base e fundamento da democracia representativa, que não hesitam em golpear sempre que seus interesses são contrariados". Nenhuma referência, é claro, ao fato de que, no momento, os interesses que estão sendo contrariados são exatamente os de Lula e do PT. Mas, em matéria de fazer o jogo de espelho, acusando os adversários exatamente daquilo que ele próprio faz, o lulopetismo superou-se em alusão explícita ao julgamento do mensalão: "Os partidos da oposição tentam apenas confundir a opinião pública. Quando pressionam o STF, estão preocupados em fazer da Ação Penal 470 um julgamento político, para golpear a democracia e reverter as conquistas que marcaram a gestão do presidente Lula".
Nos últimos dias, os sintomas de desespero nas hostes lulopetistas traduziram-se em despautérios de importantes personalidades do partido. O presidente da Câmara dos Deputados acusou o ministro Joaquim Barbosa de ser falacioso ao denunciar a compra de apoio parlamentar pela quadrilha que, segundo a denúncia da Ação Penal 470, era chefiada por José Dirceu. O senador Jorge Viana (PT-AC), ex-governador do Acre, ele próprio investigado pela suspeita de compra de votos, voltou ao tema do "golpe contra o PT". E o deputado federal André Vargas (PT-PR), chefe da equipe nacional de Comunicação do partido, revelou sua peculiar concepção de transparência da vida pública ao condenar a transmissão ao vivo das sessões plenárias do STF como "uma ameaça à democracia". São esses os combatentes da "batalha do tamanho do Brasil" convocada pelo desespero de Lula&Cia. Convocação atendida também pelo cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, em esfuziante entrevista no jornal Valor de sexta-feira.