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quinta-feira, 7 de março de 2013

ZONA FRANCA, NADA A COMEMORAR TUDO A LAMENTAR

No momento em que a Zona Franca de Manaus (ZFM) completa 46 anos é hora de se denunciar a perversa acumulação da riqueza nas mãos de poucos criando a barbárie social.
Ademir Ramos (*)
Certa vez entrevistando o senador Jefferson Peres sobre a responsabilidade social da Zona Franca de Manaus, ele me dizia que o condenável não é o modelo em si, mas, a destinação que os governos dão aos tributos arrecadados. Só o governo do estado por ano arrecada mais de 10 bilhões de reais, deixando muito a desejar o retorno desses tributos à população local, que há muito reclama por políticas públicas de qualidade em atenção à saúde, educação, seguranças, cultura, ciência, meio ambiente, empregabilidade, entre outras ações. Contudo, no momento em que o Projeto Zona Franca de Manaus (ZFM) completa 46 anos é hora de se denunciar a perversa acumulação da riqueza nas mãos de poucos criando a barbárie social a se caracterizar pela extrema pobreza, bem como pelos males causados a saúde dos trabalhadores do polo industrial de Manaus.
A discordar do senador Jefferson Peres, afirmo que o projeto em si é condenável por não valorizar a força de trabalho local, centrando suas plataformas no trabalho manual que adestra homens e mulheres a corresponderem aos estímulos das esteiras de produção, reduzindo, por sua vez, estes atores culturalmente determinados em objetos de exploração econômica e dominação política.
A isenção fiscal no Amazonas exigida pelo modelo deveria ser convertida em empregabilidade, criando oportunidade para que homens e mulheres pudessem desenvolver suas potencialidade e habilidades, afirmando desse modo nossa soberania frente às ameaças que pairam sobre a Amazônia. Estrategicamente o projeto ZFM resulta da expansão do capitalismo em território brasileiro em conluio com o Regime Militar, estendendo suas práticas até o presente, tendo como fio condutor a exploração do trabalho, acumulação da riqueza e ocupação do território.
Nada a comemorar tudo a lamentar a começar pela inoperância da bancada federal em Brasília somado ao “bate estaca” dos governantes que nada, absolutamente nada, fizeram para redimensionar o modelo numa perspectiva sustentável assentada na potencialidade local, implementando as estruturas de indústrias flexíveis mediada por tecnologias ambientais, seguido da bioindústria compartilhada com o saber tradicional em favor dos seus agentes, bem como investindo no turismo, na economia criativa e na própria criação e inovação de tecnologias em atenção aos benefícios dos serviços ambientais. No Amazonas, esses recursos vêm sendo explorados por uma empresa privada que é a Fundação Amazônia Sustentável, o pior de tudo, com o aval do Governo do Estado. Durma-se com esse barulho.     
(*) É professor, antropólogo e coordenador do Jaraqui e do NCPAM/UFAM.