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sexta-feira, 12 de junho de 2015

ENEM – A DIMENSÃO DE UMA AVALIAÇÃO




Hoje se encerram as inscrições para o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). O esperado é que milhões de pessoas se inscrevam neste exame como ocorre todos os anos. O ministério da educação (MEC) tem a expectativa de mais de nove milhões de inscritos, o que poderia se tornar uma marca histórica, pois chegando próximo da marca dos dez milhões o exame poderia se consolidar como a maior avaliação de larga escala do mundo, uma vez que atualmente fica atrás apenas do exame nacional que avalia o ensino médio da China, o Gao Kao.
É bom que se entenda as múltiplas dimensões de uma prova como esta a fim de que se evite a formação de opiniões construídas em cima de equívocos. Sendo assim, nossa coluna hoje dará alguns esclarecimentos que entendemos serem essenciais para educadores, pais, gestores e políticos. É necessário que se lance um olhar mais técnico e, portanto, mais crítico, sobre algo feito por nós brasileiros, mas que já chama a atenção do mundo. Com essa finalidade tomaremos como referência a última edição do ENEM para analisarmos aspectos que consideramos essenciais.
Inscrições
Primeiramente é preciso saber que há três números importantes no Enem: O número de inscritos, o número dos que confirmam a inscrição (pagam o boleto de inscrição) e o número dos que realmente comparecem aos locais de prova. No ano de 2014 tivemos 9,5 milhões de inscritos, contudo, apenas 8,7 milhões de inscrições confirmadas. Compareceram à prova apenas 6,2 milhões.
Segundo o MEC, 65% dos 2,5 milhões de faltosos obtiveram isenção da taxa de inscrição, ou seja, cerca de 1,6 milhões de candidatos não pagaram nada ao governo e ainda assim faltou a prova.
Só para se ter  ideia do que isso representa em prejuízo para os cofres públicos, basta pensar que o custo unitário de cada prova do Enem ficou em 2014 em torno de R$ 52,00. Multiplicando-se isso pelo número de faltosos chegaríamos a 130 milhões de reais desperdiçados. Contudo, o MEC afirma que este valor se reduz por conta da não correção das redações desses candidatos.
Taxa de inscrição
O Enem é uma avaliação que não se sustenta do ponto de vista econômico. A conta é simples, na última edição apenas 26,5% dos inscritos, tiveram que pagar a taxa de R$ 35,00. Isto representa cerca de 2,3 milhões de candidatos, e em valores aproximadamente 80 milhões de reais. Vale lembrar que se todos os 8,7 milhões de inscritos não faltassem o custo desse exame ficaria na casa dos 450 milhões de reais. De forma bem prática, o que é arrecadado com as taxas de inscrição não cobre nem sequer o prejuízo que se tem com os faltosos, uma vez que 57,17% são isentos por carência comprovada e 16,33% por serem alunos de escolas públicas.
Uma solução para esta conta que está muito longe de fechar são as medidas adotadas recentemente: impor aos faltosos uma penalidade e aumentar o valor da taxa de inscrição. Vale lembrar que esta taxa é paga por uma minoria, em geral pessoas que já concluíram o ensino médio, estudantes de escolas privadas e alunos de escola pública que fazem o exame ainda nas primeiras séries do ensino médio, como treino.
O custo de realização de uma edição do Enem (450 milhões de reais), e o fato de ela não se pagar, explicam dois fatos. O primeiro é a realização de apenas uma edição do exame durante o ano, vale lembrar que em 2009 o então ministro da educação Fernando Hadad anunciava que a intenção era a realização de várias edições anuais. A outra é a força que vem tomando a proposta de um Enem on line, o que baratearia imensamente os custos.
Perfil dos participantes
Ao contrário do que se pensa o Enem não é um exame que hoje é feito por uma grande maioria de adolescentes concluintes do ensino médio. Na verdade, cerca de cinco milhões dos que fizeram o último Enem já haviam concluído o ensino médio, muitos  já no mercado de trabalho. Concluintes do ensino médio mesmo, apenas 20% dos inscritos.
Quando se busca a faixa etária dos participantes percebe-se que 30% deles ficam entre 21 e 30 anos, e 15,5% ficam acima dos 30 anos.
A explicação para isso está nas oportunidades que o exame oferece: acesso ao ensino superior e acesso ao ensino técnico profissionalizante.
Logística envolvida
Em 2014 foram 18.900 locais de prova distribuídos em 1.714 municípios. No total houve a participação de 850 mil colaboradores em todo o território nacional, desde fiscais de prova até corretores de redação. Ao todo 80 mil malotes foram distribuídos por todo o Brasil percorrendo 138 mil rotas.
A lição que fica
Por todos estes aspectos já contemplados percebemos que o Enem é algo grandioso, tanto em objetivos quanto em abrangência. Da mesma forma os desafios que ele impõe são igualmente grandiosos. Já escrevi aqui nesta coluna sobre os desafios para a rede estadual de ensino do Amazonas, mas hoje chamo atenção para outro: “Como levar preparação para os participantes que não estão mais na escola?”.
Entendo que esta preocupação é válida, pois estas pessoas estão em muitos casos empregadas, mas querendo estudar para buscar ascensão profissional. Em outros casos terminaram o ensino médio, mas estão no mercado informal querendo fazer um curso técnico ou de ensino superior. Alguns são da geração “Nem, Nem ”, aqueles que nem estudam e nem trabalham, mas buscam no Enem uma oportunidade.
No Amazonas 184.864 pessoas se inscreveram na última edição do exame, se os números locais acompanharem os nacionais cerca de 100.000 desses inscritos estão fora da escola, já concluíram o ensino médio.  É preciso que políticos e gestores se debrucem sobre esta questão, pois em um estado que possui um polo industrial negar preparação para quem deseja fazer ensino superior o ensino técnico profissionalizante é no mínimo contraditório, e contra os interesses do próprio estado.
Deixamos também outra mensagem, é necessário que se olhe as questões relativas a educação de maneira técnica, portanto, menos superficial do que habitualmente é feito. Números, indicadores, taxas e percentuais não melhoram a educação por si só. O avanço só vem a partir do que se faz com estas informações. Muito dinheiro público é gasto com projetos que se baseiam em “achismos”, cuja fundamentação contempla os aspectos mais rasteiros daquilo que ele se propõe a dar conta.
George Castro é supervisor do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio;
Diretor executivo da Macedo de Castro consultoria educacional; ex-professor da Universidade Federal do Pará e ex-diretor do ensino médio e educação profissional do estado do Pará.

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