Total de Visitas

terça-feira, 2 de junho de 2015

CARTA AO EXMO. SENHOR SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO HELENILSON PONTES




 George Castro - Ex-diretor do ensino médio e educação profissional – SEDUC/PA.


Caro secretário,
Escrevo-lhe novamente após 55 dias da minha primeira carta para tratar do mesmo assunto que me motivou a escrever a anterior: a falta de respeito para com os profissionais da educação. Hoje me encontro ainda mais indignado com a postura equivocada, intransigente e autoritária de sua gestão.
Vou começar pelo que considero o mais desleal, covarde e injusto de tudo o que o senhor tem feito desde a deflagração desta greve: a campanha na imprensa a fim de desmoralizar os professores desse estado e seu movimento legítimo. Movimento este que não luta só para assegurar o piso salarial e a manutenção da carga horária, mas luta acima de tudo por melhores condições de trabalho para os profissionais da educação, que em última análise são também melhores condições para os alunos.
Pergunto-lhe quanto foi gasto com toda essa publicidade, em que uma boa atriz seguindo um texto com informações descontextualizadas chegava as raias de ser convincente? Certamente foram alguns milhares de reais. O que sem medo de errar seria suficiente para equipar, ou até reformar, várias escolas.
O que o senhor talvez não contasse é que toda essa mobilização que envolveu televisão, rádios e jornais, perdeu para o que há de mais veloz hoje em comunicação: as redes sociais. Através delas a sociedade ficou sabendo da verdade e em nenhum momento ficou contra os professores. Pelo contrário, houve manifestações de apoio de alunos e pais. Mas isso certamente o senhor não viu ou seus assessores não fizeram chegar até o senhor.
Deve-se admitir que também houve excessos de alguns integrantes do comando de greve, fatos lamentáveis que não há como defender. Queimar uma ordem judicial, por exemplo, foi algo desnecessário e que em nada acrescentou para o movimento grevista. Afinal, a justiça pode, e deve, ser questionada, mas tem de ser respeitada.
Contudo, nada supera suas atitudes e de sua equipe: compactuar com quem ofendeu os professores chamando-os de vagabundos e trapaceiros, encerrar as negociações com o sindicato, garantir a população que as aulas retornariam somente com professores contratados e sustentar a tese de uma “greve política”, foram algumas provas da insensatez de sua gestão.
Mesmo com tudo isso, e não conseguindo garantir o pagamento imediato do retroativo do piso e a manutenção de carga horária, os professores já estavam dispostos a voltar às salas de aula, pensando principalmente nos alunos do ensino médio que logo terão de enfrentar o ENEM e nem começaram a se preparar.
Mas o senhor e sua equipe em mais uma manobra impensada, que foi o desconto absurdo no mês de Maio, conseguiram o improvável. Uniram todos os servidores novamente em prol da continuidade da greve.
Se pararmos para pensar foram muitos desmandos em tão pouco tempo, secretário. Desde as suas lamentáveis entrevistas às rádios e televisão até esse desconto desmedido que não livrou nem mesmo aqueles que não aderiram ao movimento.
O senhor não tem noção do tamanho da crise que o senhor instalou na educação desse estado. Antes de sua chegada trabalhamos duro para estabelecer um canal de diálogo com todos: professores, técnicos, diretores e gestores. Tentamos construir uma unidade entre os servidores da educação para que o Pacto pela Educação do Pará fosse de fato um pacto de todos. Houve muitos avanços nesse sentido.
Tomo a liberdade de dizer “trabalhamos” porque fiz parte da gestão anterior e sempre procuramos dialogar com todos, porque essa deve ser a premissa fundamental de quem faz educação. Conseguimos muito apoio de professores e técnicos, pessoas que passaram a acreditar que as coisas estavam começando finalmente a se ajeitar, gente que chegou a trabalhar sem receber como os supervisores do pacto pelo fortalecimento do ensino médio (PNEM) e os supervisores do programa do ensino médio inovador (PROEMI).
Infelizmente tudo foi por água abaixo. Sua gestão conseguiu em cinco meses criar um mal estar tão grande, que ficará muito difícil conduzir todos os projetos que são necessários para tirar a educação desse estado da condição desfavorável que hoje se encontra. Para depois da greve existe uma crise anunciada ainda maior, secretário. Infelizmente sua pouca experiência em educação não lhe permite enxergá-la nesse momento.
Nesse contexto sugiro ao senhor que deixe esse cargo e leve consigo toda sua equipe, secretários adjuntos, assessores e agregados. Entregue a SEDUC a quem faz a educação básica no Pará, entregue-a nas mãos de quem tem conhecimento técnico. Há no quadro da secretaria alguns gestores que seriam excelentes secretários de educação, técnicos de carreira que seriam excelentes secretários adjuntos. Dê a estas pessoas essa oportunidade sugerindo isso ao governador.
Não sei o que o senhor pretende fazer quando sair deste cargo, mas se tiver aspirações políticas sugiro que decline delas. Suas possibilidades de se eleger a qualquer coisa se encerraram aqui, secretário. Foram enterradas junto com as aspirações dos professores de terem melhores condições de trabalho e o direito a poder usar seu tempo livre para aumentar sua carga horária, em busca somente de uma vida mais digna.
Não lhe desejamos mal, mas definitivamente seu lugar não é na secretaria de educação. 

George Castro - Ex-diretor do ensino médio e educação profissional – SEDUC/PA. Supervisor do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio – PNEM. Professor da rede estadual de ensino



VIOLÊNCIA, EDUCAÇÃO E REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL



George Castro é supervisor do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio

O Brasil tem acompanhado estarrecido a nova onda de violência no Rio de Janeiro, em que menores de idade tem frequentemente esfaqueado ciclistas e pedestres, sempre na tentativa de assaltá-los. Uma das vítimas foi o médico cardiologista Jaime Gold, morto a golpes de faca enquanto pedalava na lagoa Rodrigo de Freitas. As investigações indicam que o assassino é um adolescente de 16 anos.
Os recentes casos do Rio chamam atenção por conta da utilização de um tipo de arma que andava meio em desuso nos últimos tempos: a faca. Dizer que a crueldade dos menores nos ataques as vítimas nos impressionou, seria uma meia-verdade. Infelizmente muitos são os casos em todo o Brasil em que adolescentes que enveredaram pelo mundo do crime parecem não atribuir o mínimo valor à vida humana, promovendo cenas de Barbárie que chocam até mesmo a própria polícia.
Nesse contexto de violência e insegurança é natural se apelar para as soluções mais imediatas e, sendo assim, há quem neste momento grite ainda mais alto pela redução da maioridade penal, entendendo que o menor que infringe a lei ao matar uma pessoa tem plena consciência de seus atos e, portanto, deve responder por eles com todo rigor.
Apesar de compreensível, esta é uma análise apenas dos fatos que guarda em si a superficialidade típica de quem deseja se livrar de um problema da maneira mais simples possível, eliminando sua face mais aparente. Nessa visão míope entende-se que a prisão de quem pratica um crime é necessariamente o fim da criminalidade.
No entanto, este problema é bem mais profundo do que se imagina, e requer uma análise contextual. Afinal, a crueldade vista nos crimes que vem sendo praticados tem uma explicação que vai além somente do simples sadismo desses jovens. Há um conjunto de fatores que precisam ser levados em consideração.
Na tentativa de se explicar este comportamento pode-se elencar alguns desses fatores. Contudo, há dois que podem ser apontadas como determinantes para um comportamento violento e irracional como o que temos visto: a ausência da família e do acesso a educação.
É bom que se esclareça que essa analise do contexto dos fatos não pode (e nem deve) ser confundida com um discurso em favor de quem trata a vida humana com desprezo. Na verdade, o cuidado em se olhar esta questão em profundidade vem da preocupação não só da produção de cenas chocantes como a do médico ensangüentado na calçada da lagoa carioca, mas da reprodução de cenas como essa no Rio e em todo o Brasil.
É claro que punir é preciso, mas criar condições para que não se tenha que punir é o mais importante. Neste sentido, um caminho recomendável é o investimento em uma educação pública de qualidade, com escolas de tempo integral que tenham a presença de psicólogos e assistentes sociais, que possam auxiliar as famílias que necessitem de ajuda profissional, atuando de forma próxima aos jovens de maneira que se sintam amparados, identificando e tratando os que apresentarem perfil mais violento.
Somente com ações sistemáticas é que poderemos vislumbrar a melhora desse quadro, qualquer outra proposta é um paliativo que por mais que tenha seu valor não pode ser encarado como tendo fim em si mesmo, sob pena de em médio prazo promovermos o agravamento da situação que hoje já se apresenta no limite do insuportável.
——————–
George Castro é supervisor do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio; diretor executivo da Macedo de Castro consultoria educacional; ex-professor da Universidade Federal do Pará e ex-diretor do ensino médio e educação profissional do estado do Pará.
Contato: george@macedodecastro.com