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terça-feira, 16 de junho de 2015

INTELECTUALMENTE, SOU ANARQUISTA', DIZ JÔ SOARES SOBRE ENTREVISTA COM DILMA



 Dilma e Jô Soares que ganhou, nas redes sociais, uma reputação de "petista fanático"



LÍGIA MESQUITA
MÔNICA BERGAMO
COLUNISTAS DA FOLHA

Desde o fim da eleição presidencial de 2014, Jô Soares passou a criticar em seu "Programa do Jô", na Globo, aqueles que pedem o impeachment de Dilma Rousseff.
Suas posições no quadro "As Meninas do Jô", em que debate com jornalistas, entre outras coisas, a política nacional, passaram a ser vistas como "de esquerda" e o apresentador ganhou, nas redes sociais, uma reputação de "petista fanático".
Na sexta (12), Jô entrevistou por 69 minutos a presidente no Palácio da Alvorada, em Brasília. Seu programa marcou 7 pontos no Ibope na Grande São Paulo, um aumento de 2 pontos em relação às quatro sextas-feiras anteriores (cada ponto equivale a 67 mil domicílios).
Após a exibição da entrevista, Jô voltou a ser atacado pelo tom da conversa, tido por críticos como ameno, e pela escolha da entrevistada. Ele falou à Folha:
Folha - Você ficou chateado com as críticas?
Jô Soares - Nem um pouco. Algumas delas foram tão impertinentes que até achei graça. As pessoas têm o direito democrático de criticar. E eu sabia que as opiniões ficariam divididas. Houve comentários muito raivosos e outros muito carinhosos. Só tenho a agradecer as centenas de manifestações de carinho. As pessoas têm o direito de falar. Todos têm o direito de se manifestar. Mas, para mim, mais do que valeu.
Houve críticas ao tom da conversa.
Não era um debate. Era uma entrevista. Não cabia a mim rebater a presidente a cada momento. Eu fiz as perguntas que precisavam ser feitas. Agora, se as respostas não agradaram, o problema é de quem ouviu. Como escreveu o [ator] Otavio Martins no Facebook, esse pessoal é capaz de querer a recontagem dos gols da Alemanha [risos]. O que começou a me irritar foi essa conversa de "Fora Dilma". Como? Ela é a presidente da República. Ela foi eleita. Ela não é um técnico de futebol. O país está dividido, mas não é por isso que vou deixar de entrevistar a presidente.
A entrevista foi feita no tom que você sempre adota no programa.
Exatamente. Sou jornalista também, desde 1963, quando trabalhei no jornal "Última Hora". São 54 anos de profissão em que navego pelo humor, pelo jornalismo, pelo teatro. Já entrevistei de Luis Carlos Prestes a Paulo Maluf, fazendo todas as perguntas que um jornalista democrático deve fazer. O Lula foi ao meu programa 13 vezes [antes de ser presidente].
Você entrevistou outros presidentes no cargo também.
Entrevistei Fernando Henrique Cardoso no Palácio do Planalto na época da reeleição. Todas as entrevistas no programa sempre foram feitas em tom de cordialidade e intimidade. Não é porque a Dilma está com a popularidade baixa que seria diferente. Não tenho por que mudar o meu estilo. Nem vou deixar de entrevistar a presidente do meu país porque ela está passando por um momento grave. E queriam tanto ouvir a entrevista que não teve sequer panelaço. Foi uma recepção sensacional.
Você acompanhou a repercussão nas redes sociais?
Eu soube que bateu recorde, foi "trending topic" [figurou nos assuntos mais comentados do Twitter]. Isso é o que interessa. A prova de que eu estava certo é que a entrevista despertou toda essa atenção.
O programa vai deixar de entrevistar políticos por um tempo?
Não. Nunca mudei meu programa e nunca vou mudar. São 26 anos fazendo entrevistas. E quero dizer o seguinte: o programa retoma o seu ritmo normal nesta semana. Amanhã teremos de volta as "Meninas do Jô".
Existe a possibilidade de mudança de formato no seu programa para aumentar a audiência?
O programa diminuiu em tempo, tenho uma entrevista a menos. Eu não sou pago para analisar o que faço, sou pago para fazer. Em um programa de entrevistas, a única coisa que muda é o entrevistado ou o entrevistador.
Neste ano, demos uma enxugada em termos visuais [até o sexteto que o acompanhava diminuiu].Tirando isso, o que interessa é o conteúdo. Meu contrato com a TV Globo vai até 2016.
Antes de entrevistar a presidente, falava-se nas redes sociais numa guinada à esquerda sua.
Eu acho graça. Tudo depende de quem estou entrevistando. Repito: se entrevisto um tucano, sou petista. Se entrevisto um petista, sou tucano. É o mesmo equilíbrio que a Folha tem.
O artista não pode ter uma posição política no sentido intelectual. Tem que ser anarquista. Intelectualmente, eu sou anarquista.

REFORMAS SÃO SONHOS DE UMA NOITE DE VERÃO




Sem mudanças relevantes


Eis tudo o que o Congresso Nacional aprovou até agora como resposta aos clamores das ruas pedindo reforma política:
Financiamento das campanhas: Permite o financiamento de empresas para partidos e prevê que pessoa física pode doar a partidos e candidatos.  
Fim da reeleição: Acabou para presidente da República, governadores e prefeitos. A medida não atinge os prefeitos eleitos em 2012 e os governadores eleitos ano passado.  
Tempo dos mandatos: Passam de 4 para 5 anos no Executivo e no Legislativo. A partir de 2020 para prefeitos e vereadores, e de 2022 para os demais cargos.  
Cláusula de desempenho: Os partidos têm que eleger ao menos um deputado ou senador para ter acesso ao Fundo Partidário e ao tempo gratuito de rádio e TV.
Redução da idade: A idade mínima para se candidatar a deputado cai de 21 anos para 18. Para governador, de 30 para 29; e para senador, de 35 para 29.
Data da posse: O presidente da República toma posse 5 de janeiro; governadores, dia 4.  
Como se vê, é muito pouco para um País, vítima da incompetência dos governantes e da má vontade do Congresso, que não demonstra o menor interesse em mudar o velho e corrupto processo eleitoral brasileiro.
Se a reforma política é a mãe de todas as reformas, estamos órfãos, e não acontecerá nada em relação ao Código Penal, ao sistema previdenciário, à reforma tributária e à construção de novos presídios com a sua consequente humanização para ensejar o necessário processo de ressocialização dos presos.
Triste, minha gente, muito triste!

O QUE GERA O ENSINO PÚBLICO?





Por: George Castro* é supervisor do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio

Amazonas Atual
Em três décadas o Brasil conseguiu vencer um dos grandes problemas que afligia a educação pública do país: o acesso a escola. Até o final da década de 1990 era comum nos noticiários o relato de pais que dormiam na porta de escolas para garantir uma vaga para seus filhos, o que nem sempre conseguiam. Fato era que não havia vagas para todos e, sendo assim, existiam pessoas que estavam condenadas a não estudar.
Nesses 30 anos algumas ações foram tomadas no sentido de garantir o acesso à escola para milhões de brasileiros. A rede física foi ampliada com a construção de várias unidades escolares, professores foram admitidos através de concurso, equipamentos foram adquiridos e muito material didático foi distribuído gratuitamente aos alunos.
Contudo, outro desafio (já esperado) tem se apresentado à medida que fomos dando conta do primeiro: o de garantir a qualidade de ensino para todos. A primeira vista parece inconciliável estender o atendimento a tanta gente e ao mesmo tempo garantir qualidade. Afinal, temos hoje na educação básica (ensino fundamental e médio) pouco mais de 40 milhões de alunos.
O número impressiona, mas o que mais impressiona são os números que tentam aferir a qualidade do ensino que estas pessoas recebem nas milhares de escolas públicas existentes em todo o país. Infelizmente eles nos deixam bastante preocupados, pois em avaliações internacionais como a do PISA (sigla em inglês que significa Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) nosso país sempre figura entre os últimos colocados, sinalizando que medidas urgentes precisam ser tomadas.
No Brasil, a qualidade do ensino passou a ser avaliada através de dois indicadores: o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) e a média das escolas no ENEM – de onde a imprensa, de maneira indevida, sempre cria um ranking.
Analisando os resultados do IDEB e do ENEM, percebemos claramente que ainda há um caminho muito longo a ser percorrido. As consequências desse ensino básico deficitário já foram identificadas e quantificadas, e o prejuízo causado é grande. Podemos dizer que de maneira geral dois campos são afetados:
1.I) O ensino superior, que ao receber alunos de ensino médio com graves lacunas em seu aprendizado padece com um índice de evasão que é um dos maiores do mundo – nos cursos de engenharia chega a 40%, por exemplo.
2.II) O mundo do trabalho, que recebe pessoas sem as competências mínimas até mesmo para as funções mais básicas. Segundo a organização para cooperação do desenvolvimento econômico (OCDE), o trabalhador brasileiro por conta de sua formação na educação básica é cerca de quatro vezes menos produtivo que o trabalhador americano.
Mas por que há tanta dificuldade em avançar na qualidade da educação? A resposta para esta questão não é simples, pois precisa contemplar vários aspectos. Não há como atribuir a um único fator a situação que temos hoje no ensino fundamental e médio – os níveis da educação básica.
O currículo das escolas tem sido apontado frequentemente como um dos principais fatores que concorrem para o déficit de aprendizado dos alunos, principalmente no ensino médio. De maneira geral os currículos são baseados em muito conteúdo e pouca reflexão, não privilegiam o desenvolvimento das competências ligadas a autonomia dos alunos e ao trabalho em equipe, coisas fundamentais tanto no ensino superior quanto no mundo do trabalho.
Por outro lado a formação inicial dos professores também colabora para que esse tipo de currículo se mantenha, pois via de regra os cursos de licenciatura não formam professores para educação básica, formam sim aspirantes a professores do ensino superior. É muito comum se ouvir deles que aprenderam pouca coisa útil para sua prática docente durante a passagem pela universidade. Tendo recebido apenas conhecimento técnico.
Outro fator que colabora sobremaneira para a situação que temos hoje, é a baixa-estima de alunos e professores da rede pública, produzida em grande parte pelo ambiente escolar. Muitas escolas têm estruturas deterioradas em que se têm apenas as condições mínimas (e às vezes nem isso) para se trabalhar: são salas quentes, banheiros quebrados, ventiladores barulhentos, lâmpadas queimadas e segurança precária.
A pouca participação da família na vida escolar dos alunos pode ser apontada como outro fator determinante para a baixa qualidade do ensino. Com o tempo os pais começaram a entender a escola como uma instituição que tem por obrigação educar ampla, total e irrestritamente, seus filhos. Desse modo, delegou-se somente a escola um papel que deveria ser compartilhado com a família. Esse “abandono” costuma deixar consequências na vida estudantil, gerando problemas de relacionamento e dificuldades de aprendizagem.
Há também quem entenda que a maior culpado disso sejam os próprios estudantes, pois na sua falta de interesse residiria todo o problema. O que aparentemente parece se confirmar nos resultados das avaliações de larga escala. Contudo, há de se pensar que com um currículo que não motiva muito à reflexão – consequentemente a participação, professores que por conta de sua formação centram suas aulas no conteúdo não dando vez a aspectos da vida cotidiana, um ambiente escolar desmotivador e uma família que pouco participa da vida escolar, é muito difícil mesmo que o interesse aflore. Afinal, por que afloraria?
Portanto, qualquer reforma educacional, projeto, ou mesmo iniciativa individual que seja pensada no sentido de melhorar a educação, deve levar em conta esses aspectos. Não fazendo isso o risco de se fracassar é muito grande, pois não há como se ter resultado apreciável sem que se encarem todos esses fatores.
Mas para isso é necessário uma gestão preparada, que consiga olhar para o todo não se atendo somente a uma parte, que saiba intervir em cada fator na justa medida em que ele colabora para o mau desempenho. E, principalmente, é necessário muito diálogo entre todos os envolvidos: professores, pais, alunos e gestores.
Uma pena é que gestores com esse perfil e disposição, infelizmente, são raros. E quando surgem precisam ser muito resilientes, caso contrário são esmagados pelo modelo que já está posto, que com uma inércia muito grande resiste fortemente a mudanças.



*George Castro é supervisor do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio;
diretor executivo da Macedo de Castro consultoria educacional; ex-professor da Universidade Federal do Pará e ex-diretor do ensino médio e educação profissional do estado do Pará.
Contato: george@macedodecastro.com